
Ao sair da sua bolha, Rita avistou as cores do mundo. Havia severidade e exuberância nessas cores. Havia também, uma apatia horripilante, havia ritmo e equilíbrio e até uma brandura cálida e entorpecedora - Era o novo que entranhava como uma espada afiada e certeira ou como um raio de luz?
(Você está alimentando a sua curiosidade? Sua alma? Uma voz interna perguntava) Os ensinamentos que você vai adquirir serão inestimáveis, continuava a ressoar aquela voz inquietante.
Certamente existia significância em suas palavras - Era como se a voz quisesse dizer:
* Aceite o passado e deixe-o ir
* Perdoe e siga em frente
Mas Rita não deu ouvidos à voz. Foi tocando a sua vida, quase sem ser sentida, como se fosse simplesmente, um quadro na parede, uma brisa que entra e sai pela janela ou uma folha murcha no chão. Os anos se passaram quase nem notados, o vizinho se mudou, a loja da frente fechou, as músicas preferidas já não embalavam mais o seu coração e o sol, já não tinha o mesmo brilho - era fosco.
Com o passar do tempo, a mesma voz tornou-se repetitiva, persistente e retumbante. Ecoava em sua mente como gritos um pouco sinistros e acerados. Por fim, a voz tornou-se dor! Uma dor inquebrável, resistente, inimiga! Rita passou a odiar a tal voz e um inevitável conflito estabeleceu-se.
Houve uma explosão de emoções e o seu pranto derramou-se como um rio que inunda toda a superfície. Logo sentiu-se leve como o ar que respirava. Teve piedade de si própria e dormiu um sono profundo.
Acordou no dia seguinte e esperou que a voz se pronunciasse. Mas a voz havia se calado indefinidamente. Rita começou a experimentar um sentimento de pesar e desalinho. Já não mais havia coerência em seus pensamentos ... Afinal, aquela era só uma voz costumeira e insignificante, não era mesmo?
No decorrer dos dias seguintes, Rita implorou que a voz se manifestasse. Sentia muita falta da voz. Não admitia que sua inexistência perdurasse. Entrou em pânico! Depois, seguiu vivendo os seus dias vazios em busca da voz desaparecida.
Um dia, quando abria a janela para que o sol energizasse o seu corpo, mente e alma, conversou consigo mesma para poder se sentir menos só. E para a sua surpresa, percebeu que a sua própria voz, era a mesma voz silenciada que habitava dentro dela.
'Ouça o seu corpo, ouça a sua alma, ouça o seu coração' Mais uma vez a voz proferiu-se, mas dessa vez sem inquietação e sem precisar esbravejar.
Rita finalmente prestou atenção e confiou na voz. Pediu que ela revelasse o segredo dos seus desejos mais íntimos, seus caprichos, ambições, medos e sonhos – até mesmo os indecifráveis! A voz então, transformou-se em melodia e Rita, absorvida e atenta, escutou os compassos de sua música:
* Confie no caminho em que sua alma resolver peregrinar e não tema as correntezas dos oceanos, os vendavais madrugais, as sombras que assombram, os trovões arrepiantes e os olhares intrigantes ou julgadores das criaturas desse mundo.
* Torne-se uma cocriadora consciente do seu próprio destino e lembre-se que quando perdemos a conexão com a natureza, perdemos a conexão com nós mesmos. Medite, gargalhe, cante uma canção! Leia um livro excitante, comovente, emocionante.
* Tenha amor-próprio, promova o seu empoderamento, mas não eleve o ego para alturas incalculáveis. (Um ego dilatado normalmente explode assustadoramente e expõe uma nudez despreparada. Uma nudez indigna de aplausos)
* Conecte-se com o mundo interior e exterior. Aprenda coisas novas. Desperte o interesse para assuntos relevantes. Mantenha uma mente questionadora e um coração ardente.
* Siga a sua intuição e mantenha-se alerta como uma antena detectadora. Olhe ao seu redor. Veja o mundo com os seus olhos e com os olhos do mundo. Seja pertencente e esteja sempre presente.
* Cometa erros e acertos e entenda a felicidade de ser um ser soberano e solto.
Lembre-se que ao longo da história, as mulheres lutaram e continuam lutando corajosa e incansavelmente para se afirmarem como indivíduos. Muitas sofreram e continuam sofrendo abuso doméstico, violência sexual, mutilação genital, estupros, perseguição, assédio na escola, no trabalho, casamentos forçados, prostituição compelida, intimidação, racismo, escravidão.
Saiba que os direitos das mulheres são direitos humanos – Direitos de qualquer um – Direitos de todos.
Dessa forma, tente não somente escutar com atenção aquela voz que vem de dentro, mas outras vozes também. As vozes de outras mulheres. Vozes que gritam, vozes silenciosas, vozes que choram, vozes que riem o mesmo riso, vozes poéticas, vozes expressivas, outras tímidas e reprimidas. Vozes que acalentam, vozes que fazem a diferença, vozes que encantam. Vozes que soam a liberdade e transmitem felicidade. Vozes que falam baixinho e outras que cantam belas canções. Vozes docentes, vozes acolhedoras – Escute as vozes da natureza também.
Expanda a sua consciência! Liberte-se! Seja dona da sua luz!
-Regina Mester-
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